Sofonisba Anguissola, 1555 – Disponível na Web Gallery of Art
No mundo da arte, o autorretrato pode ser traduzido como um retrato que a artista faz de si mesma. Pode ser utilizado qualquer tipo de suporte, como o desenho, a pintura, a fotografia, a cerâmica e qualquer tipo de imagem que possa ser criada que retrate aquela artista.
Na fotografia, podemos ter autorretratos mais realistas, onde são trazidas e valorizadas características da artista enquanto corpo. É muito comum encontrarmos este tipo de fotografia aparecendo apenas o rosto da fotógrafa, mas também podemos ter imagens onde são apresentados detalhes do corpo, como mãos, pés ou olhos.
Ainda temos aqueles que podem revelar características da essência da fotógrafa, abrangendo elementos que não sejam físicos e nem palpáveis, como sentimentos e sensações, esbarrando até em pontos surrealistas ou impressionistas.
O primeiro autorretrato conhecido de uma mulher na história da arte é atribuído a Sofonisba Anguissola, uma artista italiana renascentista nascida em 1532. Seu autorretrato, intitulado “Autorretrato com suas irmãs e uma escrava”, foi pintado por volta de 1555 e é considerado um exemplo importante de como as mulheres artistas começavam a retratar a si mesmas durante a época. O quadro mostra Anguissola retratando-se ao lado de suas irmãs e de uma escrava, apresentando suas habilidades artísticas e sua posição social. Há controvérsias que neste quadro estariam três irmãs dela e sua serva, mas ainda assim, é uma obra prima!
Esta e várias outras obras, incluindo alguns autorretratos dela, são considerados exemplos raros de uma mulher artista na época, que muitas vezes eram impedidas de receber formação e oportunidades de crescimento profissional. Apesar disso, a obra de Sofonisba é considerada uma das primeiras e mais importantes realizações de uma mulher na história da arte. Ela foi pioneira e incentivou várias artistas que vieram depois dela.
Há quem ache simples realizar um autorretrato e há quem ache extremamente complexo. Se partirmos das pinturas da Sofonisba, e das pinturas em geral, pode ser notado que tudo envolve o desenvolvimento de um processo criativo, consciência e principalmente intenção. Não é diferente na fotografia.
Quando uma mulher começa a se fotografar, por mais despretensiosa que seja, existe uma barreira que começa a ser quebrada. O silenciamento, a invisibilidade, a desvalorização, a dependência emocional e a necessidade de se encaixar numa sociedade julgadora e culpabilizadora são questões que podem começar a ser trabalhadas e desconstruídas com os autorretratos, principalmente após a chegada dos filhos.
A maternidade revira tantas histórias, conceitos e caminhos na vida das mulheres, que um novo olhar é necessário para se conectar com esta nova pessoa que nasce junto com o bebê. O reconhecer o novo corpo, os novos propósitos, a vulnerabilidade, a fragilidade e tudo que fica tão à flor da pele à partir do puerpério.
Permitir-se ver através das lentes é um presente empático e generoso consigo mesma. As imagens produzidas nem sempre precisam ser divulgadas. São ferramentas individuais que servem de autoavaliação e se sentir bem consigo mesma. A fotografia é uma forma de autoconhecimento e pode ajudar a quebrar padrões sociais e estereótipos impostos pela sociedade.
Além disso, ao se fotografar, a mulher pode se descobrir e se redescobrir, explorando sua beleza e sensualidade de forma natural e autêntica. É importante ressaltar que a fotografia não precisa ser apenas para fins de autoafirmação, mas também pode ser uma forma de registrar momentos especiais e criar memórias, e de contar a história individual de cada uma através da própria pessoa e não de quem tá observando de fora. Um caminho poderoso para as mulheres se conhecerem, se valorizarem e se apropriarem de suas histórias e das histórias que seus corpos trazem. Uma jornada de fortalecimento e reconstrução.
A Revista MOM, em sua primeira edição, abriu uma convocatória para que fotógrafas mães enviassem seus mais diversos autorretratos, para que se iniciasse a reflexão do quão importante ele pode ser para o processo criativo e desenvolvimento profissional de cada uma delas. Acesse aqui gratuitamente!
Monique Olive é brasileira, natural de Belo Horizonte e atualmente residindo no sul de Minas Gerais na cidade de Nepomuceno. É fotógrafa desde 2008 e hoje atua em projetos íntimos e de família e tem como coluna central do seu trabalho, a maternidade.
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